O impossível do amar e ser amado
- Consultório de Psicologia
- 12 de jul. de 2018
- 3 min de leitura
Atualizado: 13 de jul. de 2018
Todo amor é idealizado devido ao recobrimento imaginário do objeto. Está às voltas com o real, uma vez que é de ordem pulsional. Chega a doer no corpo. Quando o casal se unifica, a relação começa a ficar especular impedindo a possibilidade de aparecer as diferenças, o singular de cada um. A forma de separar os corpos colados se fazem a partir das agressões e ofensas. Diante disso, para a existência de dois é fundamental que no relacionamento exista algo que é só do sujeito, algo da fantasia que o outro não toca. É preciso que cada um possa ter ideias livres que distinguem das ideias do outro sem que isso cause sofrimento. É preciso existir a troca entre a posição de sujeito e objeto. Assim, se o amor é quando o sujeito se endereça ao outro, é preciso ter uma cota de narcisismo, um investimento no próprio eu. Lacan nos diz que toda demanda é de amor, toda fala é endereçada por amor, pois tem sempre um além ou um a quem que se pede. Por isso “amar é dar o que não se tem". Por amor eu sou capaz de me inventar. O amor não diz de algo que um sujeito dá ao outro, mas diz de algo que é construído a dois, pois o que é construído pelos amantes, ambos não podem tomar. Ninguém toma algo que não deu. É a paciência que não tenho em uma determinada ocasião de desespero que eu ofereço ao outro. No rompimento do laço cada um segue seu rumo sem reivindicar aquilo que ofereceu e ganhou. Em Lacan veremos justamente que a relação sexual não existe pela impossibilidade dos corpos se unificarem, pois os sintomas são sempre distintos. Cada sujeito é possuidor de um corpo marcado por histórias singulares. Trata-se de um terreno em movimento onde os corpos são inscritos de maneira diferente. Portanto é um engodo acreditar que um completa o outro. Isso seria o amor de expectativa, aquele que é esperado mediante uma resposta da demanda que é constante e infinita, pois o sentimento é sempre de insuficiência. O amor é sempre pouco. Fazer um semblante dessa forma pode ser perigoso, pois todo amor pode se transformar em ódio. O sintoma, que vem do Outro machuca e nada preenche, implica em uma estranheza para o sujeito. Quem nos ensina muito sobre a incompletude do amor é a psicose. Nessa clínica quando o simbólico fracassa, o imaginário vem à tona com todo rigor e cola no real sem a possibilidade de elaboração. É destrutivo. Para tanto, é a palavra que permite uma amarração com o amor. O simbólico é uma saída pelo laço que propicia estabelecer uma relação menos sofrida, da qual o sujeito possa se reconhecer como um ser faltante para tentar dar conta da proporção sexual ou daquilo que é barrado, a saber que sempre haverá um resto que está fora do discurso. Contudo, se o sujeito ama na tentativa de ser amado, o amor já se inicia por uma perda de seu ideal. Para amar é preciso se reconhecer como um ser de falta. Reconhecer que todos são castrados, uma vez que, a lógica Lacaniana do "não todo" não consiste apenas no universo feminino, é a marca constituinte do ser falante. Assim, eu diria que amar não é esperar do outro algo que seja dado, mas tentar construir juntos um mundo a dois onde as diferenças sejam possíveis.
Camila Costa

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